Um olhar na inovação e outro na eficiência operacional: o equilíbrio é necessário

Por Romulos Machado, Senior Technical Software Manager no CESAR

Comumente, em nossas equipes e projetos, temos pessoas que são mais conservadoras e outras mais apegadas às novidades, tendo como sustentação dessas preferências as suas próprias experiências, saberes e estilo profissional. Contudo, ao longo de toda a minha carreira profissional, meio que na contramão dessa normalidade, sempre tive o instinto de não polarizar restritamente para o lado de quem só tem olhares no futuro e nas possibilidades que as novas tecnologias podem trazer. 

Mas, também nunca me senti preso à necessidade de só concordar com quem estivesse apegado ao presente e nele somente gostar de dar importância e atenção. Sempre acreditei que o pensamento analítico (associado à manutenção do presente) não pode matar o pensamento criativo (associado ao foco no futuro) e vice-versa. 

De fato, em outras instituições sempre fui compelido pelas políticas internas ou pelas estratégias de meus líderes a me posicionar exclusivamente para um dos caminhos: trabalhar para o futuro acontecer ou cuidar para que o presente funcionasse corretamente – nunca pensar paralelamente em estar atento aos dois temas, ou um, ou outro. Deveria eu ser um profissional e um líder focado em inovação ou apenas na manutenção dos processos atuais?

Mais tarde, já no CESAR, foi através de um treinamento voltado para melhorar minhas habilidades de liderança, que descobri que a pergunta correta a me fazer seria: “Mas quem disse que realmente eu precisaria escolher? Por que não se preocupar com os dois lados da moeda?“.

Por isso, o objetivo deste texto é mostrar a necessidade de olhar os dois prismas, sob mesmo peso e mesma medida, em vez de pender para somente um lado. Você também encontrará pontos de atenção e dicas sobre como desenvolver habilidades de liderança pautadas no equilíbrio entre manter eficientemente os processos atuais, sem deixar de também focar na inovação.

Antes de tudo: Entendendo o que é ambidestria profissional

Se, ao ler o termo ambidestria, achou que este conceito tinha alguma relação com o fato de ser habilidoso tanto com a mão direita quanto com a mão esquerda, sim, você está bem perto do centro da questão. 

De fato, foi Robert B. Duncan (1976), em seu artigo, quem primeiro fez uso dessa metáfora para trazer luz à necessidade de pactuar habilidosamente os conflitos, entre as estratégias, voltados para inovação e eficiência, dentro das empresas, em vez de somente focar esforços em um, em detrimento do outro. 

Mas, em se tratando de história e conceitos sobre ambidestria profissional, é preciso chamar a atenção para o fato de que, em 1991, James G. March, professor de Stanford, em seu estudo intitulado Exploration and Exploitation in Organizational Learning (Exploração e Explotação no Ensino Organizacional), trata sobre os perigos de uma atenção direcionada como sendo de exploração ou de explotação. Mas, a que se referem esses dois termos?

• Explotação (exploitation): Estas são atividades relacionadas à melhoria e a eficiência dos processos. No contexto empresarial, são as formas de desenvolver produtos e serviços já estabelecidos. Está relacionado a como melhorar e inovar de forma incremental  algo já existente.
• Exploração (exploration): Estas são atividades voltadas para experimentar algo realmente novo que agregue valor. Está relacionado às novas descobertas, inovação disruptiva e produtos ou serviços singulares e sem precedentes.

March inclusive aponta que buscar o equilíbrio entre essas duas atividades é o grande desafio de instituições que buscam sucesso permanente: “o problema básico que uma organização enfrenta é se envolver em explotação suficiente para garantir sua viabilidade atual e, ao mesmo tempo, dedicar energia suficiente à exploração para garantir sua viabilidade futura”.

Dito isso, vamos a alguns pontos que potencializam o bom uso da ambidestria profissional na liderança:

#1 Conflitos existem e sempre existirão

O ditado popular conta que os opostos se atraem, mas, na prática, esse encontro de forças ou ideias distintas pode gerar debates excessivamente prolongados ou criar situações negativamente impactantes para os demais envolvidos. Então é necessário gerenciar esses conflitos… mas como fazer isso? 

De acordo com o texto “Gestão de conflitos: guia completo com as melhores estratégias para aplicar na sua empresa!”, publicado pela PontoTel (2021), existem algumas estratégias:

• Invista bastante tempo em diálogo, para saber o que aconteceu;
• Investigue os pontos de vista, de forma empática;
• Isole fatores externos e pessoais e mantenha o foco de todos  no problema;
• Antecipe respostas e ações concretas , para prevenir situações complicadas;
• Desenvolva uma liderança positiva que inspire (e multiplique!!)  comportamentos e atitudes positivas;
• Não perca do radar os desdobramentos e procure dar um fechamento a todos os conflitos existentes.

#2 A Diversidade Cognitiva

Se lidar com a ambidestria profissional requer trazer o equilíbrio entre estratégias muitas vezes conflitantes, não há nada mais adequado para isso do que ter a possibilidade de gerenciar esses desafios fazendo uso da Diversidade Cognitiva, ou seja, construir um time formado de pessoas com diferentes capacidades, estilos, habilidades e personalidades. 

A definição acima é trazida na publicação “Diversidade cognitiva: o que é, importância e principais vantagens para a inovação nas empresas” da PontoTel (2021), a qual também serve de base para exemplificar, a seguir, os benefícios de ter e saber usar essa pluralidade de perfis profissionais:

• Foco em inovação, sem estagnação de ideias provocadas pela perigosa “bússola” da padronização e da unanimidade.
• Decisões baseadas em pensamento crítico.
• Rapidez na resolução de problemas. Quanto maior a pluralidade de perfis e saberes, mais rápido é a possibilidade da descoberta de uma solução concreta e até inovadora para problemas.
• Maior comprometimento e motivação do time.

#3 Inteligência Emocional no trabalho

A inteligência emocional (IE) pode ser compreendida de duas formas: 1. a capacidade de uma pessoa saber administrar e lidar com as próprias emoções e usá-las a seu favor; 2. a capacidade de compreender as emoções das outras pessoas. (PontoTel, 2020)

Para implementar esses conceitos de IE dentro do ambiente de trabalho, confira as dicas:

• Ser conhecedor de suas emoções, reações e limites.
• Exercer esse controle emocional da melhor forma possível, sem supressão de sentimentos, mas com a dosagem de intensidade correta para cada situação.
• Seja empático.
• Seja automotivado.

#4 Balancear questões operacionais e inovadoras

De acordo com a Fundação Instituto de Administração – FIA (2022), há 03 maneiras (ou modelos) de aplicar os conceitos de ambidestria profissional dentro do mundo corporativo, de forma a flexibilizar a necessidade de dividir esforços entre a eficiência operacional e a busca por inovação:

• Ambidestria Estrutural: Indica a necessidade de haver a divisão na força de trabalho, na forma em que uma equipe foca nas atividades operacionais, enquanto outra, paralelamente, se dedica a tomar conta da área de inovação.
• Ambidestria Cíclica:  usa da rotatividade no foco das atividades, através de uma só equipe que atua em momentos diferentes.
• Ambidestria Simultânea: une um pouco dos dois modelos anteriores, onde não há existência de ciclos e a equipe única deve ter um olhar ambidestro e ser responsável por atividades de sustentação operacional e de inovação, as quais têm o mesmo grau de importância.

Olhar para o futuro sem deixar de observar o presente

Ser uma liderança ambidestra é o melhor caminho para conseguir conciliar a necessidade de buscar a excelência na eficiência operacional dos processos e ainda promover as atividades que trazem inovação disruptiva e de real valor. 

E essa ambidestria, para ser melhor usada e aplicada, além do comprometimento estratégico, também depende do líder ser corajoso e optar por atitudes, comportamentos e escolhas que também façam com que o time de liderados sejam colaboradores essenciais no processo. 

Aprender a gerenciar conflitos, usar da diversidade cognitiva e potencializar a inteligência emocional são exemplos claros de atitudes a serem adotadas por estes líderes que quiserem usufruir dos benefícios da ambidestria profissional para melhor atingir metas e sucesso nos resultados.