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CESAR .
2020-11-12T00:40:25
Tecnologia
Salvus – Dando novo fôlego à saúde: reinventando a gestão do oxigênio
O medidor de fluxo digital da Salvus e do CESAR, impulsionado por IoT, está prestes a transformar o monitoramento do oxigênio medicinal em hospitais, melhorando a qualidade do atendimento e reduzindo os custos de saúde.
No ritmo da vida, poucas coisas são tão fundamentais quanto o ato de respirar. A cada inspiração e expiração, nossos corpos realizam uma delicada dança com a atmosfera, trocando gases que sustentam nossa existência. Para um adulto saudável em repouso, isso acontece de 12 a 18 vezes por minuto — um ritmo tão natural que raramente pensamos sobre isso. No entanto, para milhões de pessoas ao redor do mundo, cada respiração é um esforço consciente, um lembrete da fragilidade do nosso sistema respiratório.
A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) surgiu como uma epidemia silenciosa, ocupando o terceiro lugar como causa de morte globalmente. Em 2019, sozinha, foi responsável por mais de 3,23 milhões de vidas perdidas, segundo a OMS. Essa condição implacável está ganhando terreno, particularmente nas Américas, onde países como Brasil, Canadá, México e Estados Unidos enfrentam populações envelhecidas e o aumento da poluição do ar, tanto de fontes naturais quanto humanas
A pandemia de COVID-19 trouxe a importância da saúde respiratória à tona, revelando as vulnerabilidades em nossos sistemas de saúde e o papel crucial do oxigênio medicinal. À medida que nos preparamos para possíveis ressurgimentos do vírus ou outras ameaças à saúde pública, a demanda por esse elemento vital tende a intensificar-se. Para aqueles que lutam contra a DPOC — uma condição incurável — e para sobreviventes de COVID-19 grave com danos pulmonares duradouros, o oxigênio medicinal prescrito não é apenas um tratamento; é uma tábua de salvação.
No entanto, a crise global expôs uma realidade alarmante: apesar de seu papel crucial no tratamento da hipóxia, o oxigênio medicinal continua sendo um recurso escasso, especialmente para populações vulneráveis em países de baixa e média renda. A disparidade no acesso a essa necessidade básica destacou a urgente necessidade de inovação em como gerenciamos, monitoramos e distribuímos esse recurso vital.
Enquanto estamos na encruzilhada entre tecnologia e saúde, uma solução inovadora surgiu de um canto talvez inesperado do mundo, prometendo transformar o cenário do cuidado respiratório: o Brasil.
A inspiração para o Sistema ATAS O2
A jornada da inovação muitas vezes começa com uma experiência pessoal, e o Sistema ATAS O2 não é exceção. Em 2015, Maristone Gomes, fundador e CEO da Salvus, viu sua vida transformada quando seus avós e os de sua esposa se mudaram para sua casa. Essa imersão repentina no mundo dos cuidados aos idosos, particularmente sua experiência com a avó de sua esposa, que sofria de DPOC, abriu os olhos de Gomes para as complexidades e desafios do sistema de saúde.
Entre idas e vindas entre cuidados domiciliares e visitas ao hospital, Gomes testemunhou em primeira mão as particularidades de se gerenciar condições respiratórias crônicas. Essa experiência íntima com o sistema de saúde despertou uma ideia: aproveitar as tecnologias emergentes para criar melhores conexões entre pessoas, dados e processos na área da saúde. Assim nasceu a Salvus, com a missão de impulsionar melhorias no atendimento ao paciente por meio de soluções inovadoras.
“As dificuldades de saúde da minha família expuseram tanto as virtudes quanto as falhas críticas dos nossos sistemas de saúde. A Salvus nasceu dessa experiência, inicialmente com o objetivo de unificar dados de pacientes. Mas, à medida que aprofundamos os desafios do setor, descobrimos outro problema premente: o uso ineficiente do oxigênio medicinal,” disse Gomes. “Essa revelação nos levou a criar o ATAS O2 – um dispositivo que não está apenas monitorando o uso de medicação, mas revolucionando a forma como abordamos a terapia de oxigênio em hospitais e residências.”
Inovação tecnológica para impulsionar cuidados com a saúde
À medida que Gomes se aprofundava no ecossistema de saúde, interagindo com diversos stakeholders, desde hospitais, serviços de cuidados domiciliares e o setor de telessaúde, ele descobriu uma rede complexa de players envolvidos na cadeia de suprimentos e logística de manter as pessoas vivas e saudáveis. O oxigênio medicinal, um componente crítico nessa cadeia, destacou-se como uma área pronta para inovação.
Essa percepção levou a uma jornada colaborativa que já dura cinco anos. A Salvus uniu forças com o CESAR, conhecido por sua expertise em IoT e outras tecnologias avançadas, para enfrentar esses desafios de frente. Juntos, embarcaram em um projeto ambicioso de pesquisar, projetar e iterar um novo tipo de sistema de terapia de oxigênio de baixo fluxo.
O resultado dessa colaboração é o ATOS O2, uma inovação revolucionária em healthtech, projetada tanto para uso em ambientes hospitalares de atendimento de urgência quanto para terapia de oxigênio domiciliar para pacientes com hipoxemia, muitas vezes causada por condições como a DPOC.
A Salvus levará isso um passo adiante: O que diferenciará o ATOS O2 é sua capacidade de monitorar e responder de forma não invasiva a parâmetros cruciais de gases no sangue – saturação de oxigênio (SpO2) e pressão de oxigênio (PaO2). Ao automatizar a regulação desses níveis de sinais vitais, ele previne os efeitos potencialmente danosos do consumo excessivo nos pulmões dos pacientes, um risco comum na terapia de oxigênio tradicional.
Isso não apenas melhora a qualidade do tratamento, mas também ajuda na gestão de recursos e controle de custos. Os dados em tempo real permitem ajustes imediatos, garantindo que cada paciente receba um atendimento ideal, adaptado às suas necessidades específicas.
Essa inovação representa um salto significativo no cuidado respiratório, combinando o poder da tecnologia IoT com monitoramento médico preciso para criar uma solução que não apenas melhora os resultados dos pacientes, mas também otimiza as operações de saúde.
Precisão para respiração: Por dentro do medidor de fluxo digital que está transformando o cuidado ao paciente
A terapia de oxigênio, embora salva-vidas, exige precisão. A administração inadequada pode levar a consequências graves, que vão desde estadias prolongadas no hospital e aumento do uso de medicação até a necessidade de cuidados intensivos ou ventilação mecânica. Para os pacientes mais vulneráveis, como os recém-nascidos, os riscos são ainda mais pronunciados, podendo causar lesões pulmonares, retinopatia da prematuridade e danos cerebrais.
Talvez o mais impressionante seja que o Sistema ATAS O2 oferece uma visão holística do uso de oxigênio em todo o hospital. Ele fornece uma visão atualizada, consolidada e em tempo real de todos os leitos simultaneamente. Essa visão abrangente é acessível para várias equipes hospitalares – desde engenharia clínica e manutenção até assistência, auditoria e faturamento – tudo isso respeitando rigorosamente as políticas de privacidade do hospital.
Esse nível de integração e transparência permite uma alocação mais eficiente de recursos, um monitoramento aprimorado dos pacientes e uma melhor coordenação entre os diferentes departamentos. O resultado é um ambiente de saúde mais ágil, responsivo e eficaz, onde o foco permanece firmemente em fornecer o melhor atendimento possível ao paciente a custos acessíveis.
“Parcerias com o CESAR nesta colaboração de longo prazo foi uma decisão óbvia para nós. Ser incubado no Porto Digital através do Startup Brasil abriu portas, e o CESAR estava logo ali,” disse Gomes. “Juntos, acertamos em cheio com o ATAS O2, aproveitando o apoio da EMBRAPII, BNDES e SEBRAE. Essa parceria com o CESAR não é apenas um evento isolado. É contínua, e realmente foi um divisor de águas para a Salvus.”
Benefícios sociais mais amplos do pioneiro ATOS O2
O impacto do sistema ATAS O2 vai além do atendimento individual ao paciente, entregando benefícios ambientais e sociais significativos. Ao reduzir a necessidade de recargas frequentes de cilindros de oxigênio e o transporte associado, o sistema contribui para a diminuição das emissões de carbono, abordando diretamente as mudanças climáticas e a prevalência de doenças respiratórias relacionadas à poluição do ar. Essa redução de poluentes é crucial, pois a exposição prolongada a partículas finas, dióxido de enxofre e óxidos de nitrogênio está associada a taxas mais altas de doenças respiratórias como asma, bronquite crônica e infecções pulmonares.
Do ponto de vista social, a otimização das rotas leva a um transporte mais eficiente e pontual, beneficiando funcionários, clientes e comunidades locais. A redução do tráfego de veículos cria um ambiente mais propício para interações sociais e construção de comunidade. Isso minimiza a poluição sonora e do ar, melhorando a qualidade de vida dos residentes e incentivando atividades ao ar livre.
Respirando com mais facilidade: A promissora implementação do ATOS O2 no Brasil até agora
O sistema ATOS O2 não é apenas uma inovação teórica; já está fazendo impacto no cenário de saúde brasileiro. Como o único sistema de monitoramento contínuo desse tipo aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), ele garantiu sua posição no mercado. Essa autorização inovadora abre caminho para uma adoção mais ampla dentro do sistema de saúde do Brasil, estabelecendo um precedente para outros mercados. Com foco na expansão global, a Salvus agora busca aprovação em outros mercados-chave, incluindo Europa e Estados Unidos até 2026.
Até agosto de 2024, o sistema ATOS O2 registrou mais de 310.000 horas documentadas de operação em mais de 340 leitos, atendendo a mais de 4.000 pacientes em 22 diferentes instituições de saúde. Esses números, por si só, falam da rápida adoção e da confiança depositada nessa tecnologia inovadora.
Mas o impacto real está na melhoria do atendimento ao paciente e na eficiência operacional. Os dados piloto revelam que mais de 71% do oxigênio entregue aos pacientes agora é preciso, uma melhoria significativa em relação aos métodos tradicionais. Essa precisão não apenas aumenta a segurança do paciente, mas também otimiza a utilização dos recursos.
Em ambientes de cuidados domiciliares, o impacto é igualmente substancial. Quase dois terços (64%) das visitas para recarga de cilindros de oxigênio medicinal foram evitadas pela adoção do sistema ATOS O2. Essa redução nas viagens se traduz em menores emissões de CO2, custos reduzidos e, mais importante, maior segurança e conforto para os pacientes.
Mais recentemente, a Salvus integrou o ATAS O2 com o Sistema de Prontuário Eletrônico do Paciente (MV) do Brasil, automatizando a inserção de dados para auditoria e faturamento, reduzindo assim erros humanos. Uma nova parceria com a PHILLIPS está em andamento para integrar com o TASY, uma importante plataforma de gestão hospitalar no Brasil.
As capacidades de monitoramento contínuo do ATAS O2 revelaram insights cruciais sobre a gestão da terapia de oxigênio. Os dados da equipe de P&D mostram uma tendência de aumento do fluxo de oxigênio durante os turnos noturnos, o que pode prolongar o tratamento e as estadias hospitalares.
Mais importante ainda, a precisão do sistema demonstrou um potencial significativo para acelerar o desmame dos pacientes da terapia de oxigênio. Essa otimização pode reduzir as estadias hospitalares em até 16 horas, levando a economias substanciais para as instalações de saúde e melhorando as taxas de rotatividade de pacientes.
A Salvus está atualmente expandindo o ATAS O2 para incluir monitoramento de sinais vitais, proporcionando o acompanhamento remoto da frequência cardíaca, SpO2 e frequência respiratória para uma visão abrangente do estado respiratório do paciente. Isso permite que o tratamento se concentre no controle do SpO2, e não apenas no fluxo de oxigênio.
As inovações e iterações contínuas do ATOS 02 prometem revolucionar a gestão da terapia de oxigênio. Ao melhorar a precisão, reduzir intervenções desnecessárias e permitir o monitoramento remoto, ele aborda desafios críticos tanto em ambientes hospitalares quanto domiciliares.
“Estamos levando o ATAS O2 para o próximo nível, incorporando o monitoramento inteligente de sinais vitais usando IA para ajudar o pessoal hospitalar. Isso não se trata apenas de oxigênio agora – estamos olhando para a frequência cardíaca, saturação de oxigênio e frequência respiratória. Isso nos dá uma visão completa da saúde respiratória do paciente,” disse Gomes. “O que isso significa em termos reais? Melhor tratamento, conformidade, estadias hospitalares mais curtas e, em última análise, uma melhor qualidade de vida para os pacientes e suas famílias. Não estamos apenas monitorando oxigênio; estamos revolucionando o cuidado respiratório. Este é o futuro da terapia de oxigênio, e temos orgulho de liderar essa revolução.”