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CESAR .
2022-03-04T00:00:00
Design
Design Thinking na identificação de oportunidades do Turismo Criativo em Recife
Por: Ana Elisa Lins, Product Designer no CESAR
Esse artigo é um resumo do meu trabalho de conclusão do curso em Design de Interação para artefatos Digitais, pela CESAR School, posteriormente publicado no Web Based Communities and Social Media 2021, com o título “Design Thinking as an approach to foster Recife’s Creative Tourism”.
Um pouco de contexto
Por que eu decidi investigar o Turismo Criativo na minha cidade? Bom, tudo começou quando eu participei de um hackathon Startup Weekend Women e o grupo no qual me juntei ganhou a competição com uma solução para fomentar o turismo em Recife. No mesmo ano, a cidade ganhou o título internacional de “Cidade do Turismo Criativo”, embora quase ninguém aparentava saber disso. Foi nesse cenário que eu, como designer (e bairrista que sou), decidi me aprofundar no tema e me deparei com uma questão que guiou a minha pesquisa: “Como facilitar a conexão entre pessoas interessadas em experiências criativas na cidade e empreendedores que oferecem esses serviços na cidade do Recife?”
O que é Turismo Criativo, afinal?
Pesquisas sobre novas tendências de consumo apontam que os consumidores buscam produtos e serviços genuínos que lhes permitam expressar sua individualidade. Como reflexo desses anseios da sociedade pós-moderna surge o chamado Turismo Criativo. O conceito foi cunhado por Richards & Raymond (2000), que defendiam a ideia de que as pessoas hoje anseiam por uma interação mais profunda com a cultura do local que visitam, através de experiências participativas com a comunidade, manifestando as suas competências criativas e sentindo-se como um verdadeiro cidadão local.
Ou seja, não se limita à oferta de recursos tangíveis (museus, parques, etc), mas a promoção de atividades autênticas que possibilitam uma verdadeira conexão entre os que visitam com aqueles que residem no espaço, criando e mantendo a cultura viva. É uma nova geração de turismo, que converte os propósitos da viagem de onde e o quê para o como.
A essência do turismo criativo parece estar em atividades e experiências relacionadas com a autorrealização e autoexpressão através das quais os turistas se tornam cointérpretes e cocriadores à medida que desenvolvem as suas habilidades criativas.
Processo de design
O Design Thinking é uma abordagem centrada no ser humano, que vê na multidisciplinaridade e colaboração a possibilidade de geração de alternativas e soluções alinhadas com os interesses do negócio e do consumidor. O processo é estruturado em fases, e o foco deste trabalho é a primeira etapa, chamada de Imersão. Nesse momento se identifica o problema, analisando a questão sob pontos de vista distintos. Assim, formulamos hipóteses e coletamos dados para sintetizar e identificar padrões, que vão auxiliar na compreensão do problema e definição do escopo do projeto.
Neste trabalho, o objetivo era explorar e investigar o potencial do turismo Criativo em Recife e identificar as dores e necessidades das pessoas envolvidas. Para isso, estabeleci 3 etapas ao longo da pesquisa: revisão da literatura acerca do tema; pesquisa exploratória sobre a conjuntura do mercado na cidade; enquadramento teórico sobre processos do Design com abordagens voltados para negócios.
Na etapa de pesquisa foi realizada uma coleta de dados dividida em três grupos: consumidores das experiências turísticas do Recife, empreendedores de turismo criativo locais e agentes da Secretaria de Turismo do Recife. Os dois ultimos grupos participaram de entrevistas semi-estruturadas. O primeiro e maior grupo respondeu a um questionário feito através de formulário virtual. São esses resultados e insights coletados com os moradores que gostaria de compartilhar com vocês.
Resultados da investigação
Fonte de informação turística: a pesquisa mostrou que 70% dos consumidores consideram as redes sociais como a principal fonte de informação sobre diferentes atividades turísticas, sendo mais usadas do que ferramentas de busca na internet, como Google e Yahoo!. A mídia social tem grande credibilidade porque é feita de pessoas que conhecemos e/ou confiamos. Eles também consideram fortemente as recomendações de pessoas que conhecem.
Fatores que impactam na tomada de decisão: Custo, segurança e, mais uma vez, recomendações de amigos são importantes na hora de decidir conhecer/experimentar algo diferente. Para os mais velhos, a facilidade de utilização ou marcação de um serviço é essencial. Foi possível notar uma preferência por lugares próximos, seja moradia ou local de trabalho, uma indicação do motivo destes usuários não conhecerem bem toda a região da sua cidade, juntamente com o problema da insegurança.
Outro ponto que pode contribuir para isso é a falta de indicação por parte de conhecidos para visitar esses locais mais distantes, visto que isso tem sido apontado como um fator importante. Essa questão aparece tanto na motivação para ir a um lugar pela primeira vez, como no momento de pesquisa sobre as opções existentes na cidade, sendo, portanto, um ponto significativo para levar em consideração no momento de divulgar e ofertar serviços.
Percepção das experiências turísticas: Além dos já tradicionais roteiros serem citados como mais memoráveis, notou-se uma predileção por festivais (música, gastronomia, cinema, teatro, circo, etc), sinalizando um potencial a ser explorado e ao mesmo tempo o interesse por eventos, opções que trazem novidades à programação rotineira de uma cidade.
Quantidade e diversidade das experiências: Para metade deles, Recife tem poucas ou limitadas opções a oferecer, confirmando a hipótese que existe um grande desconhecimento das alternativas oferecidas. Além disso, 18% deles consideram-se turistas na própria cidade, saindo para explorar a cidade com frequência, um número não muito animador, por outro lado, apenas 1% afirmou que não tem interesse em conhecer melhor a cidade.
Formas de repassar dicas de turismo: Apenas 1% das pessoas recomendam a busca por guias e informações oficiais. A tendência é indicar as opções já familiarizadas por elas, o que faz sentido, porém limita a propagação de novas e diferentes opções, mostrando a importância do conhecimento sobre sua própria cidade. Por outro lado, ressalta a relevância da confiabilidade na opinião de pessoas conhecidas.
Sobre o Turismo Criativo: embora mostrando noções do conceito, 75% deles nunca haviam ouvido falar do termo. Isso mostra um grande desconhecimento sobre a cidade e seu potencial na área por parte de seus moradores, consequentemente também por parte dos visitantes, mesmo com o título internacional concedido pela Creative Tourism Network.
Acerca das entrevistas com os agentes da prefeitura e empreendedores, chamou-se atenção sobre a importância da criação de uma política pública voltada para o setor e da existência de uma governança atuando na área com a Rede Nacional do Turismo Criativo, a Recria. É preciso fortalecer a governança para garantir a execução do plano proposto, que inclui mapeamento das experiências emergentes, incentivo e suporte para qualificação na área, divulgação e promoção das ações realizadas, entre outros.
E agora?
Meu objetivo com essa pesquisa é alertar para o potencial turístico do Recife e como o design pode ser uma poderosa ferramenta na viabilização de oportunidades, sendo guia para o desenvolvimento de um projeto que aumente a visibilidade e as práticas de turismo criativo na cidade. O Turismo Criativo pode empoderar comunidades locais e promover a sustentabilidade, engajando as pessoas em sua própria cultura e aumentando o senso de pertencimento, tornando a cidade mais atrativa não somente para os visitantes, mas também para para os moradores.
O momento é propício para investir na área mas são muitos os desafios. Atrair e despertar o olhar do público para as vivências locais, seja como consumidor das experiências, seja sob a ótica dos empreendedores que querem investir no negócio, é a chave para aquecer o setor, trazendo a valorização cultural e o desenvolvimento econômico da cidade.
Eu espero que, para além de Recife, eu tenha despertado em você um novo olhar para as possibilidades do turismo, especialmente em tempos de pandemia, onde enfrentamos barreiras para viajar e distanciamento social. Em qualquer lugar é possível encontrar vivências turísticas transformadoras, que possibilitam uma imersão cultural e afetiva, e, se envolver em experiências locais também promove e fortalece a sua própria comunidade.
Obrigada por ter lido até aqui! Quer saber mais detalhes sobre a pesquisa ou discutir sobre o tema? Entre em contato comigo!
O CESAR é uma organização Design Driven, e por isso aplica os princípios de Design e User Experience em todos os projetos de inovação que executa. Quer saber mais sobre como entregar uma experiência incrível para seus consumidores por meio do design? Fale com um consultor.
Referências: Richards, G. & Raymond, C. Creative tourism. Atlas News, 2000. Vianna, M. Design thinking: inovação em negócios. Design Thinking, 2012.