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CESAR .


2023-03-03T00:00:00

Tecnologia


ChatGPT: desafios, riscos, múltiplas interações e o que o futuro nos reserva

ChatGPT é um ser virtual, um robô de linguagem, que habita o mundo digital e respira informações. Nascido de uma rede neural treinada por OpenAI, ele é uma espécie de ciborgue, com partes humanas e partes tecnológicas, criado para ajudar os seres humanos na jornada de conhecimento. Sua inteligência artificial é tão avançada, que ele pode responder a perguntas complexas com a mesma facilidade de uma conversa casual. E o melhor de tudo, ele nunca cansa, está sempre pronto para uma nova aventura intelectual.

O trecho acima foi escrito pelo próprio protótipo de chatbot com inteligência artificial, após um simples comando: “Escreva um texto sobre o ChatGPT de forma criativa”. Mas poderia pedir, por exemplo, para ele se apresentar com o tom do Galvão Bueno. E assim foi: “Amigos, hoje temos um assunto muito especial aqui no nosso canal. Estamos falando sobre ChatGPT, o fenômeno da inteligência artificial que vem revolucionando o mundo da tecnologia. Eu, Galvão Bueno, sou testemunha da evolução deste ser virtual e posso dizer com toda certeza, ele é simplesmente incrível! E eu digo mais, ele não cansa, não se distrai, não erra. Ele é como um goleiro eficiente, sempre protegendo a sua equipe com respostas precisas e corretas.”

Um sem-fim de interações

Daí já dá para ter ideia das múltiplas possibilidades de uso do ChatGPT. Desde pedir uma piada ou disputar um jogo da velha até obter conselhos sobre relacionamento amoroso. Planejar tarefas de rotina, resolver operações matemáticas, preparar-se para entrevistas de emprego, resumir textos, escrever templates de e-mail ou postagens nas redes sociais, obter inspiração para conteúdos… tudo está ao alcance, apesar de suas respostas levantarem uma grande discussão em várias áreas acerca, por exemplo, da propriedade intelectual envolvida e de sua corretude, o que pode potencializar os problemas relacionados a fake news. 

O ChatGPT é um aplicativo de mensageria, ou chat, da empresa OpenAI, no qual os usuários conversam não com uma pessoa, mas com uma inteligência artificial baseada em um grande modelo de linguagem natural, o GPT-3, cujo objetivo é chegar o mais próximo possível de uma conversa com um humano. O Google lançou também um chatbot, o Bard.

“A tecnologia por trás do ChatGPT, bem como seus similares, tem tudo para se tornar o que chamamos de game changing, tecnologias que têm o potencial de mudar os rumos de nossa sociedade”, avalia João Paulo (JP) Magalhães, gerente técnico sênior em Ciência de Dados do CESAR e professor da CESAR School.

ChatGPT é a ponta de um iceberg de possíveis aplicações extraordinárias

Especialista em Inteligência Artificial e Machine Learning, JP Magalhães explica o diferencial do ChatGPT. “Esse modelo aprende a partir de uma quantidade gigantesca de dados, em sua maior parte oriunda da internet, como notícias, livros, sites, artigos de revistas. Isso faz com que ele entenda perguntas complexas e gere respostas em uma linguagem muito natural para nós”, afirma. Além disso, destaca o professor, “ele é capaz de armazenar o contexto de uma conversa, então, se você perguntar sobre um determinado assunto, o mesmo manterá este conteúdo e tudo que foi perguntado em sua memória, assim como nós fazemos, o que torna a conversa muito mais fluida”.

ChatGPT é a ponta de um iceberg de possíveis aplicações extraordinárias a partir dos grandes modelos de linguagem natural. Mas o caminho ainda é longo. Tanto a tecnologia quanto a ferramenta ainda estão em versão experimental e seus criadores reconhecem a necessidade de avanços. “A ferramenta entrega resultados muito bons sobre assuntos de amplo conhecimento na sociedade. No entanto, as respostas são muito genéricas e, por diversas vezes, incorretas quando os temas são estressados. O ChatGPT não entende realmente o que está sendo enviado para ele e nem a resposta que é produzida. O que ele faz é muito mais uma relação entre o que é mais presente em suas bases a respeito do que está sendo perguntado. Além disso, ele mistura conteúdos distintos e não lida bem com fontes”, salienta JP. O software também tem conhecimento limitado do mundo, não tendo em sua base de dados os eventos ocorridos após o ano de 2021. 

Os riscos das ferramentas com base em machine learning

Toda ferramenta com base em machine learning é treinada a partir de dados e vai reproduzir e potencializar conceitos e pré-conceitos ali presentes. “Além disso, por não se tratar de uma ferramenta algorítmica, o seu comportamento pode se tornar ilógico e até catastrófico em situações limítrofes”, explica JP. “Assim como toda ferramenta com grandes potencialidades, essa tecnologia pode ser utilizada para o bem ou para o mal. Dessa forma, ao mesmo tempo que ela pode ser usada para aumentar a velocidade de desenvolvimento de sistemas por engenheiros de software, pode ser também para o desenvolvimento de códigos maliciosos, que são scripts que se aproveitam de vulnerabilidades.”

As fake news são outra preocupação. “A OpenAI, outros pesquisadores e empresas já trabalham em ferramentas para identificar os textos produzidos por estes modelos, bem como informações falsas. Ou seja, vamos precisar de ferramentas ‘antídoto’ também baseadas em tecnologia”, avalia JP. “Mas isso não vai resolver se o próprio leitor quiser acreditar em uma fake news. As grandes empresas também precisam atuar para evitar a disseminação dessas notícias falsas. E precisamos criar leis e punir os responsáveis por sua disseminação.”

As implicações na educação

Assistentes digitais de ensino e de estudo para diversas áreas podem potencializar o trabalho do professor e a evolução dos estudantes. E esta tecnologia tende a causar transformações na educação. “A primeira mudança é que o ensino baseado em ‘decoreba’ de perguntas e respostas torna-se ainda mais arcaico. Ferramentas como o ChatGPT exigem uma elevação no nível de ensino para um pensamento crítico mais apurado, visto que, virtualmente, todas as respostas de conhecimentos existentes estarão ao alcance dos alunos”, analisa o professor. “Torna-se muito mais importante fazer as perguntas que levam ao descobrimento de novas informações e o olhar crítico de avaliação dessas respostas.”

O que o futuro reserva para os chatbots

A aposta de JP Magalhães é que os assistentes digitais serão a próxima grande onda de aplicativos, seja no âmbito pessoal, educacional ou profissional. “Em um intervalo de poucos anos, todos nós aprenderemos e faremos o nosso trabalho acompanhado de um assistente profissional digital, que utiliza os grandes modelos de linguagem e bases de dados de nossa área de atuação para potencializar o nosso trabalho do dia a dia”, prevê.

“Veremos certamente uma automação acelerada de tarefas cognitivas antes consideradas apenas restritas aos humanos. Veremos um grande ganho de produtividade. Aqueles profissionais e empresas que se adaptarem mais rapidamente ao uso dessas tecnologias terão um grande diferencial no mercado. A educação ganhará escala e poderá ser muito mais customizada às necessidades de cada aluno, como se tivéssemos um tutor 24 horas ao seu lado”, prevê. Mas IA, ele reforça, é uma área que avança muito rapidamente. Então qualquer previsão é arriscada.

 

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