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CESAR .
2023-03-15T00:00:00
Negócios
CESAR NO SXSW 23: O futuro que podemos construir é aquele que podemos imaginar
O CESAR marcou presença, mais uma vez, no South By Southwest. O festival, que acontece anualmente em Austin, Texas, é um dos principais eventos de vanguardismo sobre cultura, futuro, tecnologia e sociedade como um todo. Para atender todas essas áreas, a programação é agrupada em torno de quatro grandes núcleos:
- Conferências;
- Filme & TV;
- Música;
- Comédia.
Neste ano, o núcleo de conferências contou com mais de 350 sessões que foram divididas pela organização do evento em 25 trilhas de conteúdo. E, para representar o CESAR, nossos Eduardo Peixoto, CEO, Beto Macedo, Diretor Executivo de Operações, e Flávia Nascimento, Head of Growth América do Norte, estiveram no centro de todo esse festival de conhecimento.
E, como acreditamos que todo conhecimento precisa ser compartilhado, fizemos uma curadoria das principais tendências, insights e cases de sucesso trazidos nos primeiros 3 dias do festival. Acompanhe a seguir os destaques do SXSW sob a ótica de inovação do CESAR.
Ser humano em um mundo de inteligência artificial
Mesmo com uma agenda de centenas de sessões, o festival teve notáveis protagonistas – e um deles foi Inteligência Artificial. Não à toa, um dos Keynotes foi Greg Brockman, Cofundador e Presidente da Openai – responsável pelo queridinho do momento, o ChatGPT.
A sessão foi como dar uma “espiada” no laboratório de pesquisa por trás da ferramenta e alguns dos avanços mais sofisticados da IA. Brockman levou a audiência numa jornada para entender como o ChatGPT foi concebido e como a Openai criou uma interface fácil de usar e o tornou gratuito para todos. A ferramenta também foi testada internamente e sujeita a testes beta para evitar um desastre de relações públicas semelhante ao racista Tay Chatbot da Microsoft.
Sobre o seu posicionamento quanto ao impacto da tecnologia na sociedade, Greg afirmou que é um “realista otimista” e tem fé genuína de que a IA generativa será usada para amplificar “todos os aspectos da vida” e se tornará a nova fronteira para a maioria das áreas, especialmente a criação de conteúdo.
“Começamos como uma organização sem fins lucrativos porque tínhamos uma grande missão, mas não sabíamos como operacionalizá -la. Sabemos que queremos que a AGI (Artificial General Intelligence) beneficie toda a humanidade. ”- Presidente e co-fundador da Openai, Greg Brockman.
E por falar em otimismo sobre IA, o festival trouxe à luz o seu impacto no mundo corporativo para aqueles que estão receosos sobre seus postos de trabalho. Na sessão “The Universal Intern and Partner: How Generative AI is Changing How we Work, Kevin Kelly, ex-editor executivo e sênior Maverick da Wired, afirmou: “ninguém perderá o emprego atual por causa da IA. Em vez disso, as versões atuais servem principalmente como parceiro, estagiário e assistente. Eles são realmente criativos, mas criativos em menor escala”.
A futurista, Amy Webb, também trouxe provocações interessantes sobre o tema. Mas, dedicaremos uma seção mais à frente para trazer os principais insights coletados da sua apresentação.
Por hora, trazemos uma provocação de outro outro orador clássico do SXSW – o renomado psicoterapeuta, apresentador de podcast e autor Esther Perel. Na sessão “The Other A.I.: The Rise of Artificial Intimacy & What it Means for Us”, Parte discute as presença constante da Inteligência Artificial em diversos âmbitos da nossa rotina: o que comprar, quem namorar, o que escrever, onde procurar e o que ouvir – estamos nos enganando ao pensar que temos controle sobre tudo?
Até que ponto a inteligência artificial é um canal à intimidade artificial? Como nossos relacionamentos são afetados pela hiper-conectividade e pelas métricas de desempenho da nossa auto-expressão digital? Para Perel, as relações humanas são muito complexas e ambíguas para os sistemas de IA entenderem, porém, nossas vidas digitais hiper-conectadas nos impedem de estarmos realmente presentes em relacionamentos reais.
A tecnologia é capaz de criar conexões reais?
Por falar em relações humanas via IA, a “experiência” também foi um tema contemplado por Josh D’amaro, Diretor de Experiências e Produtos da Walt Disney Company.
Na sessão Creating Happiness: The Art & Science of Disney Parks Storytelling, o Chairman começou a a palestra questionando o que a Disney estava fazendo no Hub de startups, inovação e tecnologia que é o SXSW? Ele mesmo respondeu sua provocação ao explicar que, na década de 20, o próprio Walt Disney se encontrava em seu momento startup e, em Hollywood, CA, a inovação estava em todo lugar.
Desde a criação do universo Disney, a companhia vem se debruçando sobre técnicas de storytelling para construir seu legado de criatividade e inovação, e o próximo passo é… robôs humanoides! As máquinas contariam com habilidades de movimento que entregam uma verdadeira performance para fãs dos personagens ao redor do mundo.
Ao combinar os três elementos centrais de narrativa, criatividade e inovação, os parques da Disney continuam a reinventar o futuro para criar a felicidade por apenas um dia. Essa mescla de tecnologia, inovação e experimentação passa por um processo interno de transformação da Disney marcado por investimento em novas dinâmicas de tecnologia, como misturas de holografia com inteligência artificial que materializam aquilo que só se vê nas telas.
Segundo Josh, os responsáveis por essa experiência são os “Imaginers”, time de inovação que cuida do desenvolvimento de soluções e ferramentas da companhia. Aqui no CESAR, inclusive, estamos compartilhando conhecimento sobre os colaboradores citados por Josh, conhecidos como intraempreendedores ou inovadores corporativos. Já ouviu falar?
Revolução no local de trabalho: Menos é mais?
E, não há como falar sobre colaboradores, sem lembrar de um tema em alta no mundo corporativo: a jornada de trabalho. O painel “Less is More: Moving Fast with the 4-Day Work Week” destacou que a semana de trabalho de quatro dias não está apenas na moda, há estudos que mostram aumento na produtividade, permanência de funcionários e até redução de burnout.
Mas, a logística não é tão simples quanto cortar um dia de trabalho, é preciso estrutura e processos que ajudem equipes a não apenas simplesmente trabalhar menos, mas trabalhar de forma mais inteligente.
E, para quem imagina que esse sistema representa folgas nas sextas ou segundas – além do final de semana, a realidade pode ser bem diferente. Organizações podem definir equipes e “composições de semana” distintas, com interseções estratégicas para troca de informações. Exemplo: um time pode trabalhar de terça a sexta, enquanto outro atua de quinta a domingo. Mas, como afirmou Lindsey Liu, CEO da Super, startup que segue o modelo de 4 dias de trabalho: “Só dá certo se todo mundo estiver muito mais focado”.
E o metaverso: já engatou?
O metaverso fez aparições mais tímidas nessa edição do Festival. Na realidade, a conversa sobre o tema foi muito mais realista e pragmática do que especulativa, como vinha sendo nos anos anteriores.
Para a maioria dos painelistas, o metaverso representa ideias e oportunidades diferentes para players diferentes. Por esse motivo, os executivos devem definir bem os interesses e as expectativas geradas pelo termo com parceiros e clientes.
E, uma coisa é certa: A tecnologia que irá proporcionar uma total imersão do usuário ainda não existe. Vai demorar anos até que dispositivos como óculos VR mais user-friendly sejam lançados e aderidos. Além disso, a própria infraestrutura do universo virtual, com padrões básicos e interoperabilidade, ainda está sendo criada.
Como o nosso CEO, Eduardo Peixoto, afirmou em nossa Revista TRENDS: grande momento do Metaverso, aquele que será entregue em toda a sua completude, exige algo que a tecnologia e o design podem não ser capazes de entregar por muito tempo.
Por enquanto, os humanos digitais estão prontos para o seu holofote. O festival contou com painéis e experiências imersivas trazidas por artistas que estão utilizando a tecnologia em tempo real e os seres humanos digitais de maneiras convincentes e inesperadas – em projetos que variam de filmes, experiências de realidade virtual, a séries animadas como ‘Love Death & Robots’ da Netflix.
ESG: o clima é de alerta e ação
O assunto em destaque não foi outro além da mudança climática, afinal, estamos em crise. Além de reduções graves de emissões, a capacidade de remoção de carbono precisa aumentar 10 bilhões de toneladas por ano até 2050 para atender às metas climáticas globais. E um dos principais desafios para uma agenda de sustentabilidade é que, em meio a uma crise climática global, a cultura do consumismo está explodindo.
E o consumismo não está reservado às pessoas físicas, corporações também estão protagonizando práticas nocivas no fornecimento de materiais até o desperdício de pacotes e as emissões de carbono de entrega. A sustentabilidade hoje está na vanguarda e as empresas precisam entrar nesse cenário, porque as suas práticas corporativas estão cada vez mais sob o microscópio.
Outro ponto discutido dentro da ótica ESG foi o social: os líderes atualmente estão sendo chamados não apenas para reagir, mas para abordar proativamente as crises de seus países e planeta. E quando fala-se em líder, a conversa está se estendendo para além dos políticos, abarcando, também, CEOs e líderes da indústria, que devem se posicionar frente a crises, injustiças, bem como a democracia e as liberdades que ela protege.
Previsões da futurista Amy Webb
Com pessoas na fila para assistir o seu painel desde às 7h da manhã, Amy Webb, renomada futurista e CEO do Future Institute, já iniciou a conversa comentando que sentia que acreditava que metade das pessoas na arena era brasileira, inclusive, arriscou até um “Boa tarde, minha família!”.
Conhecida pelo seu Tech Trends Report – relatório anual que estreia no festival, Amy destacou que seguir as tendências emergentes é mais importante do que nunca porque, com o tempo, elas irão moldar a sociedade. E, assim, a sua apresentação se concentrou em cerca de 35 das 666 (!) tendências do último conjunto de relatórios.
Para facilitar a logística, ela explicou que há pontos de convergência entre diferentes agrupamentos de tendências e, para o festival, trouxe dois deles.
O primeiro Cluster envolve a convergência entre a Web3, a Computação em Nuvem e a Inteligência Artificial – esse trio desencadeará uma reformulação dos negócios e da sociedade, ou como Amy Webb declarou: a Internet como a conhecemos não existe mais.
Com a proliferação da IA, grandes modelos de linguagem e aprendizado com o feedback humano, tudo ao nosso redor se torna informações que estão prontas para serem processadas e usadas para treinar modelos de IA – com AIs generalistas altamente capazes. Webb desenhou, ainda, dois cenários possíveis para o ano de 2033:
Cenário otimista – IA centrada nas pessoas e o gerenciamento de dados voltado para o bem comum, em uma configuração transparente e descentralizada com o compartilhamento de dados opcional. Essa nova infraestrutura funciona para o usuário e fornece benefícios tangíveis.
Cenário catastrófico – Nossas pegadas digitais são constantemente transformadas em modelos, levando a curadoria e recomendações agressivas, em vez da verdadeira escolha do usuário. Acabamos cercados por informações, que nos impedem de obtermos as coisas que realmente buscamos.
O segundo cluster envolve a convergência entre a IA, o metaverso, a bio-engenharia e a saúde focada na computação assistiva. Neste cenário, as tecnologias atuam como ferramentas invisíveis e onipresentes que levam a grandes melhorias não apenas na medicina, mas em quase qualquer segmento profissional.
“A falta de democratização do conhecimento a respeito de novas tecnologias poderia levar a uma ruptura social, entre quem sabe usar e quem não tem acesso às ferramentas que devem ser cruciais para novos empregos.” – Amy Webb.
Para conhecer mais sobre as tendências trazidas por Amy, recomendamos este conteúdo.
Como já foi antecipado pelo título desde report, o futuro que podemos construir é aquele que podemos imaginar, por isso, experiências como o South by Southwest, nas quais o conhecimento é amplamente compartilhado e podemos experimentar de perto a inovação, nos aproximam cada vez mais de novos horizontes e novas possibilidades.