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CESAR .
2022-08-30T00:00:00
Educação
Aprendizagem no fluxo do trabalho: como se adaptar?
Por Rodrigo Perazzo, Consultor de Tecnologia da Informação no CESAR
Uma série de pesquisas realizadas entre 2015 e 2020 pela Deloitte, O’Reilly e LinkedIn que somadas ultrapassam 10.000 profissionais, 700 empresas e 100 países, traz indícios de uma nova onda de necessidades quando o assunto se trata de aprendizagem no ambiente de trabalho. Pessoas não têm tempo suficiente para aprender, especialmente nos ambientes formais de aprendizagem, preferem aprender no próprio ritmo e, se possível, no momento de necessidade. Esses são apenas alguns dos achados extraídos desses estudos.
Ainda em 2018, Josh Bersin — analista e pesquisador global de RH, liderança e T&D — propôs um novo paradigma para Educação Corporativa: o Learning in the Flow of Work® [ou aprendendo no fluxo do trabalho, em tradução livre]. Ele chega a essa proposta após investigar como os paradigmas da educação vem evoluindo nas últimas 3 ou 4 décadas, de um modelo de catálogo de cursos e universidade online nos anos 90, para atualmente um modelo baseado em vídeos distribuídos em categorias e canais com recomendações e entrega de conteúdo suportadas por IA. Na visão dele, isso se dá porque a maioria dos fornecedores de soluções de educação estão se inspirando em plataformas como Netflix ou Spotify.
No entanto, o contexto da educação corporativa é muito diferente de música, séries de TV e entretenimento no geral. Sobre isso, ele comenta: “Não assistimos para nos entreter, assistimos para realmente aprender algo. […] É claro que as pessoas querem a oportunidade de navegar e encontrar o conteúdo de que gostam […], Mas […] não temos tempo para navegar durante todo o dia, e as aplicações de aprendizagem mais urgentes e consequentes são dicas, recomendações, sugestões e ferramentas que nos ajudem a melhorar em nossos trabalhos”.
A proposta de Josh Bersin de certa forma se alinha com a definição de Malcolm Knowles sobre aprendizagem na vida adulta: “Adultos aprendem novos conhecimentos, compreensões, habilidades, valores e atitudes de maneira mais eficaz quando são apresentados, no contexto de aplicação, a situações da vida real”. Conrado Schlochauer — fundador da nōvi, palestrante e autor do livro Lifelong Learners — defende que na área de negócios “Cases de empresas nos Estados Unidos, Japão, Índia ou lista de melhores práticas de startups só servirão para o seu processo de desenvolvimento se você conseguir fazer uma tradução da aplicação do aprendizado para o seu cotidiano”.
Em 2019, um ano depois da proposta do novo paradigma, a consultoria Deloitte reconhece que o aprendizado, para ser efetivo, deveria ocorrer no fluxo da vida. Se antes mesmo da pandemia do coronavírus esse era o entendimento, as medidas de distanciamento social aplicadas em diversos países para conter a contaminação do vírus amplificaram o impacto. Conforme relatório da OECD- Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, as medidas reduziram a participação dos trabalhadores em ações de aprendizagem não formal numa média de 18% e em ações de aprendizagem informal em 25%.
A aprendizagem não formal é composta por todas as ações com algum grau de estruturação, mas que possuem mais liberdade e fluidez que o formal, por exemplo, workshops, congressos e cursos livres. Já a aprendizagem informal são iniciativas espontâneas e não estruturadas, como aprender numa conversa com alguém ou aprender fazendo.
O relatório da OECD conclui que “Isso representa uma quantidade notável de aprendizado perdido e que pode não ser facilmente recuperado. Essa perda será sentida tanto na produtividade das empresas quanto nos salários dos trabalhadores quando a economia se recuperar influenciando o desenvolvimento das habilidades dos trabalhadores”.
Como desenhar programas de Educação Corporativa adequados ao mundo de hoje?
Há primeiro que se reconhecer que esse não é um desafio trivial e que cada empresa encontrará uma
solução de Educação Corporativa diferente para seu contexto e momento. Inclusive, áreas distintas da empresa poderão ter necessidades distintas, sugerindo a criação de programas específicos.
Entenda o seu momento
Se o momento da empresa é de desenvolver sua base de talentos para novas funções e demandas do negócio, oferecer residências internas ou externas para reskilling desses profissionais pode ser mais efetivo do que focar em trilhas de conhecimento. Aprender com quem já faz, por meio de desafios adequados ao nível das pessoas, mas atrelados à entregas reais, vai criar o contexto ideal de foco e propósito necessários para o aprendizado verdadeiro acontecer.
Programas de reskilling são voltados para o desenvolvimento de novas habilidades em pessoas que estão em busca de migração para outras áreas. Um exemplo desse formato é o NExT, um programa do CESAR focado na transição de carreira para a área de Tecnologia da Informação. O NExT desenvolve o estudante para que ele seja capaz de entender, adaptar e utilizar métodos e tecnologias dentro de processos ágeis do desenvolvimento de software. A formação é acelerada e habilita os estudantes a programar nas linguagens mais utilizadas no mercado.
Já se o momento da empresa é de upskilling, mas ainda está na fase de construção de conteúdo especializado, criar grandes expectativas relacionadas a consumo e acesso de conteúdo interno podem mais atrapalhar do que ajudar. Nesse caso, a busca por formações online para colaboradores remotos alinhadas com os interesses deles e da empresa é o mais adequado. Finalmente, se há um acervo próprio (de cursos, vídeos, tutoriais, processos, etc), mesmo que tímido, esta talvez seja a hora de se pensar como integrar esse conhecimento ao fluxo de trabalho dos colaboradores.
Use a infraestrutura tecnológica instalada
De acordo com Josh Bersin, as melhores soluções serão aquelas que se beneficiam da infraestrutura tecnológica da empresa já em uso, seja Outlook, Slack, G-Suite, Salesforce ou qualquer outra. O foco deve ser em reduzir atrito, como mencionado pela diretora de conteúdo da O’Reilly, Karen Hebert-Maccaro. Acessar, pesquisar e finalmente encontrar a resposta de que precisamos deve ser feito de forma eficiente o suficiente para que o colaborador possa retornar imediatamente ao fluxo de trabalho.
A Microsoft, por exemplo, passou a veicular em julho deste ano, 2022, a propaganda de sua própria solução para a aprendizagem no fluxo de trabalho, o aplicativo Viva Learning. Aparentemente funciona como um centro de aprendizagem centralizado no Microsoft Teams. A partir dos interesses do colaborador, é possível receber sugestões personalizadas de conteúdo do LinkedIn Learning, da Microsoft e também da própria empresa ou parceiros. Ainda é possível compartilhar e recomendar conteúdos diretamente com os canais dos seus times. Esse parece ser um bom experimento para se fazer em empresas onde Microsoft Teams já é a ferramenta oficial de comunicação.
Utilize as novas alternativas de ensino
Com o avanço tecnológico, os métodos de aprendizado entraram em expansão. Hoje, é possível aprender praticamente tudo, para isso, basta ter um dispositivo com acesso a internet. É neste cenário que surge o ensino à distância adaptado para a realidade corporativa, promovendo os chamados cursos online in company, ideais para empresas que buscam oferecer aos seus colaboradores uma formação profissional flexível.
Na CESAR School, por exemplo, há um catálogo de cursos que desenvolvem habilidades conectando pessoas de formas inovadoras, com soluções que aumentam a qualidade do processo de ensino e aprendizagem. As aulas geralmente acontecem no formato assíncrono e com objetos educacionais e atividades estratégicas para as organizações, com a mesma qualidade, garantindo a interação remota e ao vivo entre alunos e professores.
Um grande diferencial dos cursos online in company da CESAR School é a parceria formada com as empresas, na qual criamos, por meio de um processo colaborativo, soluções personalizadas que atendem às suas necessidades e contextos. É possível, ainda, criar trilhas de aprendizagem, focadas em objetivos específicos, como por exemplo:
- Pessoas e cultura;
- Novos modelos de negócios;
- Processos e Inovação nas organizações;
- Tecnologias habilitadoras e impacto dos dados.
Nem tudo é sobre estudar
Empresas de tecnologia em que grande parte do quadro de colaboradores é formada por desenvolvedores podem se beneficiar de outra estratégia. Numa equipe de 50 desenvolvedores, a quantidade de tempo gasto na busca de respostas ou soluções soma entre 333-651 horas “perdidas” por semana em toda a equipe, conforme a Developer Survey de 2022.
O investimento num repositório privado de perguntas e respostas específicas para os problemas mais comuns no ambiente daquela equipe pode fazer mais sentido nesse cenário. Empresas como Atlassian (com o seu produto Confluence) e a própria Stack Overflow oferecem esse tipo de solução, inclusive com integração com o Slack e o Microsoft Teams.
Não há motivos, no entanto, para se achar que essa estratégia de Educação Corporativa se restringe a conhecimento estritamente técnico. Situações como dificuldades de comunicação e conflitos poderiam ser mitigadas se à distância de uma busca no chat o colaborador pudesse contar com artefatos que facilitem a conexão entre pessoas, como roteiros de feedback e/ou diálogos genuínos. Aqui também cabe uma máxima da cultura Remote first: para tornar o conteúdo acessível não basta dar permissão para vê-lo, é imprescindível saber onde encontrá-lo.
O RH pode enfim, em colaboração com outras áreas em especial a de TI, avaliar quais alternativas para realidade da empresa oferecem menor lacuna entre os problemas enfrentados pelos colaboradores e suas possíveis soluções, sejam pílulas de conhecimento ou trilhas completas de habilidades para se desenvolver, sem que haja necessariamente uma disrupção no trabalho ou no ritmo de cada um.
Uma aliada na formação de talentos estratégicos
A Educação Corporativa possibilita que a organização desenvolva competências essenciais ao negócio e fortaleça as habilidades individuais de seus colaboradores, fomentando uma força de trabalho capaz de acompanhar seu crescimento acelerado. O CESAR oferece diversos outros formatos de Educação Corporativa, tais como:
- CESAR Summer Job: um programa financiado por empresas que oferece experiência prática aos alunos e identifica talentos;
- ReSkilling de profissionais para atender às demandas específicas do setor de TI;
- Academias e programas internos de formação acelerada de capital humano.
Promova a Educação Corporativa na sua empresa, para desenhar a sua estratégia ideal, entre em contato e fale com um consultor CESAR.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
2018 Workplace Learning Report: The Rise and Responsibility of Talent Development in the New Labor Market. LinkedIn [s.d.]. Disponível em: https://learning.linkedin.com/resources/workplace-learning-report-2018. Acesso em: 25 ago. 2022.
2019 Global Human Capital Trends: Leading the social enterprise—Reinvent with a human focus. Deloitte [s.d.]. Disponível em: https://www2.deloitte.com/uk/en/pages/human-capital/articles/introduction-human-capital-trends.html. Acesso em: 25 ago. 2022.
VOLINI, E. et. al. Beyond reskilling. Deloitte, 15 maio 2020. Disponível em: https://www2.deloitte.com/us/en/insights/focus/human-capital-trends/2020/reskilling-the-workforce-to-be-resilient.html. Acesso em: 25 ago. 2022.
BERSIN, J. A New Paradigm For Corporate Training: Learning In The Flow of Work. The Josh Bersin Company, 8 julho 2018. Disponível em: https://joshbersin.com/2018/06/a-new-paradigm-for-corporate-training-learning-in-the-flow-of-work/. Acesso em: 25 ago. 2022.
KNOWLES, M.; HOLTON III, E.; SWANSON, R. Aprendizagem de resultados. São Paulo: Campus Elsevier, 2009.
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HEBERT-MACCARO, K. The Next Big Shift in Enterprise Learning: Performance-Adjacent Learning. Training Industry, 3 out. 2018. Disponível em: https://trainingindustry.com/articles/content-development/the-next-big-shift-in-enterprise-learning-performance-adjacent-learning/. Acesso em: 25 ago. 2022.
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