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CESAR .


2022-06-21T00:00:00

Tecnologia


A nova era da internet: o que esperar da Web 3.0?

Por Erika Campos, UX/UI designer no CESAR.

Vivemos em um mundo cada vez mais digital. Transformações acontecem de forma acelerada e novas tecnologias surgem todos os dias, impactando nossa vida de forma irreversível. Neste momento a internet está sendo reinventada, a forma como interagimos com ela e, consequentemente, com o mundo ao nosso redor está para mudar radicalmente.

Trabalho com tecnologia há anos e confesso que até pouco tempo não tinha nem ouvido falar na Web 3.0. Ao ler um pouco mais sobre o assunto me peguei especulando: até onde esta nova web, que promete descentralizar a internet, diminuindo a influência das grandes empresas de tecnologia na forma como navegamos, eliminando intermediários nas diversas relações e empoderando os indivíduos, vai impactar o nosso dia a dia?

Para entender melhor de onde vem a Web 3.0 e pra onde ela pode nos levar, vamos voltar um pouco no tempo e entender como foram, afinal, as Webs 1.0 e 2.0 (figura 1).

Figura 1: Linha do tempo da Web
Fonte: Souza, Mayara (2022) – imagem customizada pela autora

Web 1.0 – A internet estática

Lá pelo final dos anos 80, início dos anos 90, surgiu a Web 1.0. Impulsionada pela criação da  World Wide Web (rede mundial de computadores, ou www), pelo físico e cientista da computação Berners-Lee, Tim (1989) ela deu aos usuários,  através   de um sistema de documentos, a possibilidade de acessar conteúdos multimídia. As páginas deste período eram estáticas e muito simples, com textos e pouquíssimas imagens, e pertenciam, em sua maioria, a veículos de imprensa ou sites institucionais de empresas. O leitor apenas acessava o conteúdo, mas não podia interagir com ele. (Info Money, 2022)

Depois de alguns anos, onde só era possível acessar sites dos quais já sabíamos o endereço www e no qual navegávamos de uma página para a outra, de forma semelhante a de folhear uma revista, surgiram empresas de tecnologia para organizar estas informações. Nasciam assim, no final dos anos 90, os buscadores. (Info Money, 2022). Você com certeza já usou um dos serviços que fizeram uma grande evolução da internet. Altavista , Google, Yahoo (figura 1) e Cadê, eram alguns dos indexadores de conteúdo mais utilizados no Brasil.

Figura 1: Imagens do site do buscador Yahoo em 1994 e 1996, respectivamente.
Fonte: Web Design Museum (2022)

E uma curiosidade: também fez sucesso por aqui o Radix, um buscador genuinamente pernambucano, criado dentro do CESAR – Centro de Inovação. Nascido de uma parceria com a Universidade Federal de Pernambuco, a partir de uma tese de doutorado, o Radix chegou a contar com 75 funcionários. A eficiência da ferramenta acabou chamando a atenção de investidores, que em 1999 fizeram um aporte de cerca de US$ 5 milhões na empresa.

Web  2.0 – Informação e interatividade

A Web 2.0 teve início nos anos 2000, quando começaram a surgir “plataformas que agregavam o conhecimento coletivo das pessoas” (Coutinho, Lemos, 2022). Foi nessa época que surgiram a Wikipedia, aplicativos de bate papo, como o MSN, os blogs e as redes sociais. Esta também foi a era das redes sociais. Os finados My Space e Orkut, além de YouTube e Instagram, são alguns dos “filhos” dessa fase da rede, que perdura até hoje.

Com a massificação do conteúdo em plataformas, sua concentração acabou ficando na mão das Big Techs (grandes empresas de tecnologia), como Amazon, Apple e Google. Estas empresas ganharam muito poder ao longo deste tempo e hoje tem nos nossos dados, colhidos a partir do uso dos seus diversos serviços, seu maior trunfo para comercialização de produtos, serviços ou dos dados em si.

“A Web 2.0, que dura até hoje, levou bilhões de usuários para dentro da Internet. Por outro lado, também marcou a monopolização da rede mundial de computadores. Os principais serviços, como buscadores e plataformas de mídias sociais, ficaram nas mãos dos grandes conglomerados de tecnologia” (InfoMoney, 2022)

Temos, então, uma web centralizada, onde os dados dos usuários são colhidos e comercializados, sem que eles saibam. Já parou pra pensar o quanto isto acontece e o controle que estas empresas têm sobre nós? Quem nunca navegou num site para pesquisar por um produto, ou mesmo falou sobre alguma coisa que queria numa conversa com os amigos, para logo em seguida, entrar nas redes sociais ou email e ver montes de anúncios de produtos similares?

Nossos dados são hoje o bem mais valioso para estas companhias, que muitas vezes sabem mais de nós, que nós mesmos. Mas é cada vez mais comum encontrar artigos que afirmam que isto deve mudar em breve.

“Gigantes da tecnologia como Google, Amazon, Netflix, Facebook e Microsoft são algumas das poucas empresas que atualmente obtêm um enorme lucro com os dados dos usuários. Entretanto, isso está prestes a mudar: com a Web 3.0, nós seremos recompensados ​​por nosso tempo e dados.” (Souza, Mayara, 2022)

Web 3.0 – O futuro da internet

A Web 3.0 chegou com a proposta de revolucionar a web como nós a conhecemos. Também conhecida como internet de terceira geração, é considerada a próxima evolução da World Wide Web. A expectativa é que ela redefina a experiência na web, democratizando a internet, a partir de mudanças estruturais.

A proposta desta nova fase da web é que seja uma rede descentralizada, onde cada pessoa tenha controle sobre os seus dados e conteúdo, podendo, sem intermediários, vendê-los ou negociá-los, sem  risco à sua privacidade ou perda de propriedade. A ideia é devolver o controle da web a seus usuários.

“É aí que entra a Web 3.0, com a promessa de ser uma internet baseada na infraestrutura de cripto e blockchain, onde possa haver ao mesmo tempo a descentralização da Web 1.0 com as funcionalidades da Web 2.0.” (Portilho, Andre, 2022).

Como tornar isso possível? Você já ouviu falar das moedas digitais ou criptomoedas, como o Bitcoin? Elas funcionam de forma semelhante ao dinheiro, só que são totalmente digitais e, ao contrário das físicas, não são emitidas por governos, nem são propriedade de uma empresa específica. “Com o Bitcoin você pode transferir fundos de A para B em qualquer parte do mundo sem jamais precisar confiar em um terceiro para essa simples tarefa”, relata Ulrich, Fernando (2014).

Isto é possível graças à Tecnologia Blockchain, um banco de dados público e distribuído, de forma descentralizada, segura e menos concentrada na mão de empresas.

E se isto pode ser feito com moedas, por que não usar com outras finalidades? Lemos, Ronaldo (2022) sugere que, se é possível utilizar o Blockchain para habilitar criptomoedas descentralizadas, “é possível também criar outros serviços descentralizados, tais como aplicativos de entrega de comida, transporte e música, games, fintechs, redes sociais, identidades digitais, streaming e assim por diante.” 

Tomando como exemplo empresas de prestação de serviços de transporte via aplicativo. O Uber e o 99 taxi hoje intermediam, através de suas plataformas, toda a negociação e pagamentos entre usuários e motoristas. Imagine que isso possa acontecer sem a interferência de uma empresa, de pessoa para pessoa (P2P). A expectativa é que isso seja possível, de forma segura e vantajosa para ambas as partes.

Se a Web 3.0 vai virar uma realidade? Segundo Lemos, Ronaldo (2022), para alguns especialistas, ela “seria só uma jogada de marketing para inflar expectativas sobre os mercados de blockchain.” Ele conta que outros acreditam que a concentração do “poder” na mão das grandes empresas de tecnologia e a desigualdade, vão continuar, e cita o artigo do professor da NYU Scott Galloway, que afirma “novos intermediários vão surgir, gerando de novo um movimento de recentralização”. (Lemos, Ronaldo – 2022)

Uma coisa já sabemos. A tecnologia Blockchain já está no mercado financeiro e aparentemente veio para ficar, e promete mais segurança não apenas para as moedas digitais, mas também para outros serviços. “Além das criptomoedas, a blockchain também pode ser usada para validação de documentos – como contratos e troca de ações, transações financeiras – comercialização de músicas ou filmes, rastreamento de remessas e até votos”. (Nubank, 2022)

O fato é que, a todo momento, mais empresas se apropriam dessa tecnologia para geração de novos negócios. A nós, resta seguir atentos ao que está vindo por aí e a quais oportunidades e desafios a Web 3.0 vai nos trazer.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Coutinho, Camila; Lemos, Ronaldo. Dicionário da Web. Stupid Talks. Disponível em: <https://open.spotify.com/episode/1ryKfBXVKg0vyXbaTGhQQ1?si=2MSKwx45QCahxQMABmM2Dg>. Acesso em 18/06/2022.

Expert.ai. The 8 Defining Features of Web 3.0. Disponível em: <https://www.expert.ai/blog/web-3-0/>. Acesso em: 17 de junho de 2022.

Freepick.com. Gráfico 3d da terra que simboliza a ilustração do comércio global. Disponível em:
<a href=”https://br.freepik.com/fotos-vetores-gratis/globalizacao”>Globalização vetor criado por liuzishan – br.freepik.com</a>. Acesso em: 19 de junho de 2022.

Info Money. O que é Web 3.0 e como ela se relaciona com o mercado de criptoativos. Disponível em: <https://www.google.com/amp/s/www.infomoney.com.br/guias/web-3-0-e-criptoativos/%3Famp>. Acesso em: 17 de junho de 2022.

Lee, Tim Berners. Information Management: A Proposal. Disponível em: <https://www.w3.org/History/1989/proposal.html>. Acesso em 17 de junho de 2022.

Lemos, Ronaldo. As promessas da Web 3.0. Disponível em:<https://itsrio.org/pt/artigos/as-promessas-da-web-3-0/>. Acesso em 18 de junho de 2022.

Nubank. O que é blockchain – uma explicação simples. Disponível em:<https://blog.nubank.com.br/o-que-e-blockchain/>. Acesso em 18 de junho de 2022.

Portilho, André. Web 3.0: a internet está sendo reinventada nesse exato momento. Disponível em: <https://exame.com/future-of-money/web-3-0-a-internet-esta-sendo-reinventada-nesse-exato-momento/>. Acesso em 19 de junho de 2022.

Souza, Maiara. O que é Web 3.0? – A descentralização da internet. Disponível em: <https://livecoins.com.br/o-que-e-web-3-0-descentralizacao-da-internet/>. Acesso em 19 de junho de 2022.

Web Design Museum. Gallery of Web Design. Disponível em:<https://www.webdesignmuseum.org/gallery>. Acesso em 18 de junho de 2022.

Wikipedia. Radix.com. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Radix.com>. Acesso em 17 de junho de 2022.


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