Filipe Villa Verde Médico e Engenheiro de Software
Com tantas possibilidades, a IoT aplicada na saúde desperta grande interesse. Segundo a Forbes (2015), este será um mercado de US$ 117 bilhões em 2020.
Já faz algum tempo que a internet faz parte de nossas vidas e desde então estamos conectados como jamais estivemos, em escala global. Até agora nós usamos dispositivos para nos conectar e transferir dados, mas chegou a hora dos dispositivos se conectarem, perceberem o ambiente ao seu redor através de sensores dos mais diversos tipos e transmitirem dados entre si, sem interferência humana: essa é a IoT (Internet of Things), a internet das coisas. Mais importante que a simples transferência de dados são as análises e respostas automatizadas, que também estão previstas na IoT. Isso significa precisão, agilidade e eficiência nos resultados. Diversos setores estão se beneficiando dessa nova tecnologia, o da Saúde é um deles.
Outra tecnologia que entra em cena é a dos dispositivos wearable (que podem ser vestíveis). Atualmente, os seus representantes mais populares, os smartwatches (relógios), coletam os sinais vitais e outras informações corporais que podem ser usadas para os cuidados com a saúde. Já existem diversos monitores cardíacos (inclusive smartwatches com essa função) que estão conectados a smartphones, e, consequentemente, à internet, transmitindo continuamente os batimentos cardíacos do usuário. Essa informação pode ser usada para identificar alguma alteração no ritmo cardíaco e acionar uma ambulância, por exemplo, ou até mesmo verificar se a nova dose da medicação prescrita pelo médico está surtindo efeito. Com o surgimento de novos dispositivos wearable, será possível adquirir uma série de outros dados sobre o funcionamento do organismo de uma pessoa, monitorar maior número de informações e personalizar os tratamentos para cada indivíduo, ao contrário do que acontece hoje.
Segundo levantamento do IBGE (2014), 40% da população brasileira possui alguma doença crônica não transmissível (hipertensão e diabetes, por exemplo), responsável por mais de 70% das causas de morte. Essas doenças exigem tratamento contínuo, ajustado de acordo com o valor do parâmetro que precisa ser controlado, como pressão arterial na hipertensão e glicemia na diabetes, por exemplo. No caso dessas doenças, o paciente faz exames periódicos e o médico indica os ajustes no tratamento, quando necessários. Mas tanto as consultas como os exames podem demorar. Com a popularização de medidores de glicose e de pressão arterial, os próprios pacientes podem monitorar os dados de onde estiverem. Mas o que a IoT propõe vai além: esses medidores enviarão os dados atualizados e em tempo real para um aplicativo no smartphone do paciente e do médico, que pode prescrever as orientações necessárias sem que o paciente precise esperar o tempo da consulta. Viabilizando o atendimento remoto, praticamente em tempo real, a tecnologia da IoT tem a possibilidade, então, de atuar na prevenção de doenças, maior qualidade de tratamento e prognóstico, além de garantir maior controle e redução de custos para instituições e pacientes, que não gastariam com medicamentos, exames ou intervenções incertas, descartados pela precisão das informações.
Em hospitais, a IoT pode auxiliar os profissionais com diversos ganhos para os pacientes. Imagine uma pessoa em estado grave que chega a uma emergência. Vários aparelhos são conectados a ela, gerando uma grande quantidade de informações, e os médicos precisam decidir rapidamente o que fazer. Geralmente esses aparelhos não se comunicam e é tarefa do médico juntar todos os dados para diagnosticar e prescrever o tratamento adequado. Supondo um cenário onde esses aparelhos estivessem conectados pela IoT, um sistema poderia centralizar os dados e mostrálos de forma mais organizada ao médico, ou até auxiliar em algumas decisões correlacionando as informações que estão sendo geradas continuamente. A análise de dados, o tempo de resposta e de ação seriam mais precisos.
A Saúde Pública também se beneficiaria com a internet das coisas. Ao invés de ficar aguardando a chegada dos dados que serão avaliados de locais diferentes, um sistema estaria adquirindo informações de vários dispositivos conectados e gerando relatórios automáticos– por exemplo, as informações das consultas que o paciente fez nos postos de saúde e internações em hospitais estariam reunidas e seus parâmetros sendo automaticamente cruzados. Respostas frente a epidemias seriam muito mais rápidas e eficazes com o auxílio da IoT. A área de pesquisas também ganharia muito com uma aquisição de dados mais fiel, sem erros associados à coleta manual, resultando em tratamentos baseados em dados mais exatos. Já existem aplicativos para smartphones pensados para este trabalho de pesquisa, direcionados justamente para coletar e armazenar dados pessoais da saúde do usuário.
Com tantas possibilidades, a IoT aplicada na saúde desperta grande interesse. Segundo a Forbes (2015), este será um mercado de US$ 117 bilhões em 2020. Isso porque muitos recursos estão envolvidos na área, principalmente quando um paciente chega a um estado grave que demanda tratamentos mais onerosos. Pacientes que tenham sua doença controlada com maior precisão, medidas de prevenção de qualidade e monitoramento estarão menos susceptíveis a quadros graves.
Entretanto, um fator muito importante da IoT, principalmente na área de Saúde, é a privacidade das informações. Este cenário de dispositivos conectados enviando dados uns aos outros, muitas vezes utilizando a internet, abre margem para problemas de segurança da informação. Além dos dados, as decisões e os alertas gerados pelos sistemas de IoT também devem seguir os mesmos padrões de sigilo e privacidade. O desafio será garantir que a troca de informações entre os dispositivos seja feita de maneira segura, já que elas são de propriedade do paciente e não podem ser acessadas indiscriminadamente sem o seu consentimento.
A IoT é uma tecnologia em crescente expansão em diversas áreas pelos evidentes benefícios que carrega consigo. Não há dúvidas que irá trazer melhorias nos cuidados em saúde, aperfeiçoando o tratamento dos pacientes, reduzindo custos e auxiliando a prática dos profissionais da área. Contudo também é preciso ter cautela para que problemas relacionados à segurança e à privacidade não atrasem seu uso, retardando a chegada dos benefícios dessa tecnologia na vida das pessoas.