Mas inovar é pensar no futuro – o que não pode ser feito replicando o passado. Para inovar, temos que dar saltos, e só é possível ter certeza que um produto ou serviço é inovador ao longo de ciclos de experimentação e validação, a partir das respostas do mercado.
O início desse processo é, por natureza, incerto, até porque certeza poderia levar à insistência em um caminho errado. Por isso, tudo o que temos ao iniciar um processo de inovação são hipóteses, que podem ou não fazer sentido. Aí é que está o segredo: é importante que empresas operem também a partir do pensamento abdutivo.
Raciocínios dedutivo, indutivo e abdutivo
Os pensamentos dedutivo e indutivo são as duas formas dominantes de lógica que fundamentam o raciocínio analítico:
- Lógica dedutiva: é a lógica do que deve ser, com conclusões que partem do geral para o específico. No universo corporativo, é o caso de uma empresa fazer uma leitura sobre dados passados do mercado e da concorrência e, em cima deles, traçar uma estratégia para determinado produto ou serviço que oferece.
- Lógica indutiva: a lógica do que é eficiente, construída com argumentos que partem do específico para o geral. Ou seja, uma empresa que observa bons resultados para um de seus produtos e, a partir desses dados, desenvolve um plano de ação para toda sua linha produtiva.
Nota-se que tanto a lógica dedutiva quanto a indutiva, apesar de serem ferramentas de raciocínio de grande poder com uso fundamentado na tradição científica, são pensamentos de tomada de decisão com base em informações do passado.
Já o raciocínio abdutivo prevê um caminho diferente, ligado à criatividade e a mecanismos de experimentação que lançam um olhar para o futuro. A abdução foi proposta por Charles Peirce, e diz do uso de certos dados para se chegar a uma conclusão mais ampla: procura-se a melhor explicação para solucionar determinado problema, buscando uma conclusão baseada em ideias, hipóteses e novas possibilidades.
Assim, pela lógica abdutiva, o comportamento do passado pode não ser a melhor explicação ou trazer o melhor resultado. Por isso, trabalha-se com dados de outra natureza para criar hipóteses e cenários futuros.
O que aconteceu com a Kodak?
Fundada em 1880 nos Estados Unidos, a Kodak dominou o mercado da fotografia por mais de um século e faliu em 2012 (antes de retornar em 2020). Quando a empresa fechou, o mercado de fotografia estava em plena ascensão com as câmeras digitais, que inclusive foram invenção de um de seus engenheiros. O que deu errado?
Depois que chegou aos consumidores, a fotografia digital se tornou um caminho sem volta. Mas com uma leitura equivocada do cenário, baseada na evolução do mercado até então, a Kodak manteve o foco em produtos e serviços tradicionais de fotos.
À frente de uma empresa industrial, a liderança da organização acreditava que a tecnologia demoraria décadas para ganhar qualidade e se tornar acessível. A Kodak não previu a velocidade do avanço tecnológico: que não configurou apenas um novo produto, mas uma mudança profunda no mercado. Faltou à empresa criar hipóteses sobre o futuro.
O valor das hipóteses
Quando você cria uma hipótese, entra em um processo de aprendizado, que é inerente ao universo dos negócios e da inovação: toda boa ideia, no fundo, é uma hipótese. E o segredo é testar essa hipótese da forma mais rápida e barata possível, com eficiência.
Ou seja, ao se identificar um problema, que seja feita formulação e verificação de uma hipótese por meio de observação e experimentação rápida. Esse tipo de experimento e de raciocínio é natural dos designers – e da lógica abdutiva.
É comum tratar o design como desenho e produções gráficas ou de produtos. Mas o design vai muito além: tem um papel crucial na identificação de oportunidades através dos problemas, solucionando-os de maneira mais efetiva.
Assim, um equilíbrio entre os raciocínios abdutivo, indutivo e dedutivo é essencial para se fazer inovação. É necessário que as pessoas pensem em eficiência e continuidade; ao mesmo tempo, que questionem o status quo e partam para inovação disruptiva. É uma ambidestria que pode ser desenhada a partir da combinação de uma cultura orientada a dados (data driven) e a design (design driven).
Por que ser design driven?
Um dos autores do conceito de design driven é o italiano Roberto Verganti, que publicou em 2009 o livro Design Driven Innovation. Ele
explica que a inovação que é design driven não se baseia em uma resposta à demanda do mercado, ela cria novos mercados. Ela também não é implementada somente com base em um novo conjunto de tecnologias, mas sim a partir de novos significados.
Ser design driven torna o CESAR inovador e é um dos nossos diferenciais. E esse DNA é transferido para empresas que desenvolvem projetos com as nossas equipes e para startups criadas ou aceleradas dentro do centro. Hoje, mais de 100 designers atuam em diversos dos nossos projetos com essas abordagens.
Empresas nos procuram para executar ciclos específicos de experimentação, com o objetivo
de validar uma nova ideia ou uma melhoria incremental. Buscam também o design de produtos e serviços digitais que entregam experiências incríveis e resultados relevantes para o mercado.